sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Reclame!

Meu pai reclama que eu não durmo, minha mãe reclama que eu não trabalho e minha irmã reclama que eu não estudo. Minha ex-namorada reclamava que eu não lhe dava atenção e hoje eu não reclamo de estar solteiro.
Alguns amigos meus reclamam de eu não ter ido à festa, outros de eu não ter ido jogar futebol. Na TV um cara reclama dos jovens e da falta de interesse por política. Os curitibanos reclamaram do calor. O calor passou e eu senti falta da praia, reclamei de não ter tido um fim-de-semana tão bom quanto o que passei lá. Os escritores reclamam que brasileiro não lê. Os blogueiros reclamam de não darem créditos ao seu blog. Os músicos reclamam que não tem apoio. O Dado Dolabella reclamou porque achou que o João Gordo tinha traído o movimento punk. Eu reclamei porque não tenho emprego, reclamaram porque trabalham demais. Homens e mulheres reclamam da TPM. Torcedores reclamam porque seus times perderam. Solitários reclamam da falta de amor.
Eu reclamei porque não tinha inspiração e você está reclamando por ter perdido seu tempo lendo esse texto. Reclame meu amigo, reclame! Enquanto você reclama, eu rio das suas preocupações idiotas!


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Texto Apaixonado

Era um fim-de-semana prolongado. Desses que começam na quinta e acabam no domingo. Na noite do primeiro dia do feriado eu tinha preparado um sanduíche e colocado duas colheres de achocolatado num copo. Quando abri a geladeira vi que não tinha leite. Frustrado, decidi ir à casa do Rodrigo para pedir um pacote de leite emprestado.
Rodrigo morava na casa da frente. Conhecemos-nos ali pela rua mesmo e nos tornamos excelentes amigos. Havia uma turma grande que vivia sentada na calçada jogando conversa fora e dando muita risada, eu e Rodrigo fazíamos parte dessa turma.
Assim que abri a porta da minha casa percebi que havia muito movimento no quintal da casa de meu amigo. Mesas para fora de casa e pessoas conversando num tom de voz alto e feliz. Lembrei que Rodrigo tinha comentado que a família de seu tio viria de uma cidade distante pra passar o fim-de-semana na sua casa. Atravessei a rua e percebi que estavam jogando baralho. Abri o portão e cumprimentei todos com um discreto “oi”, depois falei pro Rodrigo o que me trazia ali.
- Espera terminar essa rodada que eu já pego pra você – ele falou.
- Vou esperar lá dentro.
Não estava me sentindo a vontade ali. Tinha alguns desconhecidos e tudo que eu queria era pegar o leite e voltar para casa comer. Por isso quis esperar na sala. Quando entro na sala, vejo uma garota sentada no sofá, hipnotizada pela TV. Falo “oi”, ela responde. Cumprimento com um beijo no rosto, ela se levanta educadamente para o ato, mas, logo em seguida senta. Parece que durante todo esse tempo ela não tirou o olhar da televisão. Sento no sofá do lado, está passando novela. Eu odeio novela. Mas, sentei ali e comecei a assistir a garota. Devia ter uns 17. Era linda, loira, olhos verdes e boca perfeita. Imagino que o mesmo olhar penetrante que ela tinha para a TV era o que eu tinha para ela. Olhar fixo, sem perceber nada que acontecia a volta. Não sei quanto tempo isso durou. Mas, acabou quando ouvi um: “Tá aqui, oh”. Era Rodrigo com uma caixa de leite na mão, e eu, saindo da hipnose, disse:
- Que que é isso?
- É o leite, porra.
“Leite... Leite... Ah é... Eu vim aqui pra pedir um leite.”
- Valeu.
- Tá assistindo novela, é?
- Não, não. Valeu pelo leite, to indo embora.
Disse “tchau” para a garota, ela me respondeu sem tirar o olhar da TV. Fui com o Rodrigo até o quintal, me despedi da turma que jogava baralho e fui pra casa. Mais tarde, deitado na cama, não conseguia parar de pensar naquela garota. Como é que um pia tão feio tinha uma prima tão linda? Existem coisas que não tem explicação. Ela me deixou fascinado, mesmo mal notando minha presença. Talvez até isso tenha sido um charme a mais, não sei. Só sei que estava encantado.
Na tarde seguinte Rodrigo apareceu na minha casa. Eu havia pensado na prima dele a manhã inteira, mas não comentei. Ele falava daqueles primos e tios de um jeito que parecia estar falando dos próprios irmãos e pais. Preferi ser cauteloso. Ele me convidou para ir à sua casa a noite, jogar um baralhinho. Normalmente eu diria não, não tenho saco para ficar me enturmando com parentes de outros. Mas, naquela noite eu tinha motivo para isso. Falei pro meu amigo que “iria ver”.
Depois que o primo da minha adorada foi embora não parei de pensar que de noite a veria novamente. Estava feliz, preocupado e nervoso ao mesmo tempo. Estava até preocupado com que roupa iria vestir. Ridículo? Talvez. Lá pelas 21 horas, olhei pela janela e vi que a jogatina comia solta. Olhei-me no espelho pra ver se não tinha nada errado e fui até lá.Cheguei lá com uma caixa de leite na mão. Todos ficaram olhando até que o tio do Rodrigo perguntou por que eu tinha levado o leite. Tive que me explicar. Sentei-me para jogar e logo vi que quem eu queria ver não estava ali. Jogamos algumas partidas e mais ou menos depois de uma hora ela pareceu. “Acabou a novela” pensei. Ela se sentou longe de mim, do outro lado da mesa. Enquanto jogávamos descobri que seu nome era Patrícia e que adorava sertanejo.
Jogamos cacheta até a uma da manhã mais ou menos. Fui um dos melhores da mesa. Não importava, não apostamos. O que importava é que pude contemplar aquele sorriso por um longo tempo. Torci pra ninguém ter reparado o quanto eu reparei nela.
No sábado, Tiago apareceu. Era mais um daquela turma que falei antes. Teria churrasco na casa dele. Perguntei pro Rodrigo se ele iria, e a resposta que ouvi foi melhor do que a esperada:
- Claro que vou. Vou ver se meus primos “tão a fim” também.
Maravilha! Era a minha chance de conversar com a Patrícia sem os pais dela ao lado. E em churrasco todo mundo se solta! Nada podia ser melhor.
Mais uma vez tive cuidado na escolha da roupa. Mais uma vez estava feliz, preocupado e nervoso ao mesmo tempo. Eram 19 horas quando saí de casa. Assim que coloquei os pés para fora vi Patrícia, linda, entrar no carro com sua família, e em outro carro a família de Rodrigo – com exceção do próprio - saírem. Chamei meu amigo, que fechou o portão e disse:
- “Vamô?”
- Seus primos não vão?
- Eles vão no cinema.
Decepção. Minha esperança tinha sido em vão. Eu não teria a chance de me aproximar de Patrícia, e aquele churrasco já não fazia sentido pra mim.
Sabe aquela história de que em churrasco todo mundo se solta? Balela! Eu não me soltei. Fiquei no meu canto tomando uma e outra cervejinha e pensando nela. Perto da 1 da manhã decidi ir embora.
Já vai? A festa nem começou. Fica aí. Por que tão cedo? Vamos curtir mais um pouco. Tá todo mundo aqui e você vai “vazar”? Poxa, não vai embora agora não.
Respondi qualquer coisa e fui embora. Deitei na minha cama e dormi decepcionado.
No domingo fiquei em casa o dia inteiro. De tardezinha vi Patrícia ir embora. Foi a última vez que a vi, o sonho tinha acabado. Dormi e acordei pensando nela. No trabalho não fiz nada direito. Meu chefe reclamou comigo, perguntou onde eu estava com a cabeça. Eu pedi desculpas. Cheguei em casa, comi qualquer coisa e dormi, pra variar, pensando nela.Na terça-feira já estava melhor. Concentrei-me no trabalho e nem lembrava mais da Patrícia. Chegando em casa, vi que tinha um caminhão de mudança na rua, na casa ao lado da minha. A casa que ficou vazia quase dois anos. Vejo um casal e um cara forte – provavelmente o dono do caminhão – descarregando caixas. Vejo uma morena saindo da casa, maravilhosa, corpo incrível, bronzeada, marquinha de biquíni aparecendo. Imaginei que ela deve ter passado o feriado na praia, imaginei que ela devia ir sempre à praia. Ela me diz alguma coisa, eu não entendo, tiro os fones do ouvido e digo:
- Oi? – Não o cumprimento e sim perguntando o que ela disse.
- Oi... – ela repete, agora sim cumprimentando.
Alguns instantes depois descobri o seu nome e que ela tinha 23 anos.
Naquela noite dormi pensando na minha nova vizinha.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Na Avenida


As ruas da cidade estão lotadas. Olha a Colombina e o Pierrô! Tem bundinha e peitinho de fora. Tem bundão e peitão também! Também tem gordo de barriga de fora. É festa! É sexta, sábado, domingo, segunda e terça! E, se bobear, a saideira é só quarta de manhã! Já beijei uma, duas, três. E agora tô beijando o chão, não me lembro porque.
Caramba como esse povo pula, e vai pra lá e vem pra cá. Já beijei quatro, cinco seis. Já passei a mão na bunda da gostosa e já apanhei do namorado fortão. É Festa! Tem álcool, drogas e sexo! Mas, eu sou consciente. A propaganda me fala pra usar camisinha e minha mulher me fala pra beber pouco. Mas, peraí... Eu sou mulher! E tem outra mulher dando em cima de mim. Será que sou lésbica e tô traindo minha esposa? Cacete! Se eu sou mulher, como é que eu tô coçando meu saco?! Ah... Eu tô vestido de mulher, e essa mulher dando em cima de mim é homem também! Caramba, da onde saiu tanto traveco? Aquela dali é bonitinha... Será que é homem disfarçado ou mulher de verdade? Difícil de saber nesse estado...
Eu tô dono; e o meu bêbado não tem cu. Não, não é isso... Eu tô cu; e o meu dono não tem bêbado... Peraí... Eu tô noiado; e meu chefe não tem bunda! Que desgraça! Tá errada essa frase! Até porque eu tô bom. Sério, tô bom. Olha só como eu tô bom, vou até fazer um “4” pra você. Oooopa! Mas, eu tô bom. Sério mesmo. Não é porque eu não consigo andar que eu tô ruim. É que esse povo pula pra cá e pula pra lá e eu não consigo ir aonde eu quero. Mas, eu nem sei aonde eu quero ir. Eu tô fazendo que nem menstruação: eu sigo o fluxo.
Eu pulei bêbado no mar e morri afogado. Mas, só depois de ter entrado em coma alcoólico.


E um país de maioria esmagadora cristã promove a maior festa do pecado no mundo.


E a trilha sonora de hoje vem direto de Jundiaí. Com vocês Fistt!


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Pare de inventar desculpas para não ler


Não é novidade que brasileiro lê pouco. Mas será que existe alguma perspectiva de que isso possa mudar? Se com esse texto o Brasil ganhar pelo menos um leitor, valerá a pena tê-lo escrito.
Esse texto será divido em duas partes: a primeira discutindo o quê está sendo feito para mudar os hábitos do brasileiro, e a segunda escrita especialmente para você.


Parte I – O hábito de leitura do brasileiro está mudando?

Uma pesquisa realizada pelo instituto Pró-Livro em 2007, e divulgada no site do jornal Gazeta do Povo em novembro de 2009, aponta que brasileiros leem em média 1,3 livros por ano. Por outro lado, o mesmo site publicou no último 31 de janeiro que o faturamento médio das livrarias brasileiras cresceu 9,7%. Podemos criar esperança de que mais brasileiros criem o hábito de ler?

Segundo a reportagem publicada recentemente, e citada acima, o crescimento das receitas nas livrarias brasileiras foi impulsionada pela venda dos chamados Best-sellers juvenis, como Harry Potter e a saga Crepúsculo. Confesso nunca ter lido nenhum livro dessas séries - o tema que eles apresentam definitivamente não é de meu interesse -, por tanto não posso dizer nada quanto a qualidade dos livros. Li algumas críticas negativas referente à saga Crepúsculo, mas, acho muito bacana a conquista de novos leitores. Afinal de contas, difícil é fazer com que alguém leia o primeiro livro. A partir daí, leitores dos vampiros bonzinhos podem conhecer todo um universo de incríveis romances (e, para os leigos, romance não se trata – necessariamente – de uma história de amor!).
Quem também tenta contribuir para mudar os baixos índices de leitura no Brasil é o governo federal, com a criação do vale-cultura (que eu não sei se já está funcionando. Se alguém tiver essa informação, por favor, me avise). Muitas pessoas podem pensar que essa “bolsa” dada pelo governo ajudará a impulsionar ainda mais o mercado livreiro, e aumentar o número de leitores no país, mas, não é bem assim. Pra começar, o cidadão brasileiro já devia ter acesso à cultura só com o salário que ganha, sem precisar de “vales”. È claro que poucos brasileiros gastariam em outras formas de cultura quando tem a opção de ficar em casa assistindo Zorra Total, se o dinheiro sobrasse seria guardado para comprar uma TV maior e não para assistir uma peça teatral, por exemplo. Como o assunto aqui não é teatro nem Zorra Total voltemos ao foco.
Um dos principais argumentos que o povo brasileiro usa para não ler é a falta de dinheiro para comprar livros, com o vale-cultura essa desculpa deixa de existir. Porém, os R$ 50,00 do vale cultura podem ser usados para cinema, teatros, shows, exposições, livros, CDs, DVDs entre outros. Você acha que a maioria da população vai usar esse vale para comprar um bom livro ou comprar DVDs e ir ao show daquela duplinha ou bandinha que está na moda? A resposta é fácil. Por tanto, não adianta somente dar o dinheiro para cultura, é necessário incentivar uma cultura que agregue valores e conhecimento na vida das pessoas. O vale-cultura só será positivo para uma pequena parcela da população que saberá aproveitá-lo.
Se o Brasil caminha para aumentar seu de número de leitores, os passos dados são lentos. A criação do vale-cultura pode até ser um passo, mas, ainda tem toda uma estrada pela frente para ser percorrida. É necessário falar mais de livros e dar mais espaço para autores em todos os meios de comunicação. A maioria da população ainda não vê que ler é uma forma de entretenimento tão boa – e, na minha opinião, melhor – que a TV ou a internet.


Parte II – Você não tem mais desculpas para não ler

Um dos principais motivos para as pessoas se tornarem não-leitores são os “traumas literários” (se não existia esse termo, acabei de criar). Não achei pesquisa que prove isso, mas, conversando com algumas pessoas percebemos o motivo delas não lerem.
Sabe quando você é obrigado a ler “Senhora” ou “Menino do Engenho” no colégio e acha tudo muito chato? Um primeiro contato negativo com a leitura faz as pessoas acreditarem que ler é ruim. Mas, na verdade, os livros foram colocados em momentos errados na sua vida. A partir daí, não importa o livro que coloquem na frente da pessoa, ela sempre terá aquela impressão de que ler é chato. O mesmo pode acontecer com alguém que é obrigado a ler livros na faculdade, por exemplo. Aliás, dificilmente uma leitura feita por obrigação será agradável. Eu costumo comparar leitura e música para as pessoas entenderem melhor, veja o exemplo:

Imagine você nos seus tempos de colégio. Sua professora – querendo lhe introduzir ao mundo da música – vai aplicar uma prova que vale metade da nota do semestre, prova essa que vai ser toda baseada num CD do É O Tchan (calma fãs do Cumpádi Washington, é só um exemplo). Você odiou aquele som – apesar de ter babado nas dançarinas de shortinho -, mas, com muito sacrifício, ouviu todo aquele CD pra poder passar de ano. Desde então, você não teve mais contato nenhum com qualquer outro estilo musical. Hoje você diria que não gosta de música? É claro que não! Você pode não ter gostado do É o Tchan, não ter gostado de axé, mas, existem vários outros estilos musicais pra você conhecer e curtir. Com o livro é a mesma coisa. Se você tem algum trauma literário, lhe convido a dar chance a outros estilos de livro que você ainda não conhece. Você pode conhecer um mundo do qual não vai mais querer sair.
Outra grande reclamação que sempre ouvimos é referente ao preço dos livros. Realmente títulos novos não têm um preço muito acessível. Mas, você já parou para entrar num Sebo? Existem vários livros usados e seminovos que saem por um bom preço. Uma boa dica pra achar livros baratos sem sair de casa é o site Estante Virtual. O site tem cadastro de Sebos de todo o Brasil! E você pode buscar livros de uma maneira muito fácil. Segundo o próprio site, eles têm 2.778.228 livros de até doze reais e 648.895 livros de até cinco reais! É claro que com o frete acaba saindo um pouquinho mais caro. Mas, se você achar o livro que quer na sua cidade, você mesmo pode ir até o sebo indicado no site e comprar, sem pagar o frete. Eu já usei várias vezes o site, pagando uma média de dez reais por livro, recomendo!
Agora, se você conseguiu chegar até o final desse post, mãos à obra! Procure títulos, leia resenhas e o mais importante: procure algo que você goste! Não importa se o livro está na moda ou é líder de vendas, o que importa é se o livro é bom ou não para você. O que você está esperando para começar a ler um livro?


Fontes:
Brasileiro lê um livro por ano, revela pesquisa
Livrarias crescem 10% com ajuda dos best-sellers juvenis
O que prevê o projeto de de lei do vale-cultura