quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

31 de Dezembro

Acordou e a primeira coisa que fez foi abrir a janela. Imaginou a grama de casa coberta por neve, como via nos filmes - aproveitava o tempo sozinha em casa e assistia vários. Era uma pena não ver neve no jardim, se visse, talvez, esboçasse um sorriso. Mas, fazia muito calor e o que ela viu pela janela foi sol, muito sol.
Sua família devia estar aproveitando a praia. Ela não quis ir, preferiu ficar na comodidade que sua casa oferecia: TV a cabo, internet e uma locadora na esquina. Lembrou que sua melhor amiga – talvez a única que havia sobrado - tinha descido também e lhe convidado para ficarem juntas, mas, ela inventou uma desculpa. Falou que precisava guardar dinheiro para auto-escola, e de fato precisava, já havia passado da hora de aprender a dirigir.

Sem a família, sem a melhor amiga, sem um namorado. Lembrou que seu último relacionamento acabou em abril... Em abril! Já faz oito meses que não conhece outro cara. O último disse que eles não tinham mais tempo para ficarem juntos. E não tinham mesmo. A garota estava estudando demais, esse era o terceiro ano que tentava entrar no curso de medicina. Não tinha tempo pra nada. Começou a pensar por que tinha escolhido tal curso. Se tivesse escolhido algo menos concorrido estaria entrando no quinto período e não estaria tão aflita com o resultado do vestibular que sairia em breve.
Depois de um ano de empenho a garota precisava mesmo dar um tempo para ficar em casa descansando. Não ligava de ficar sozinha, até gostava. Mas lembrou que aquele não era um dia comum, era 31 de dezembro. Pra quem ligar? Quem chamar? Procurou alguém que valesse a pena no MSN e não encontrou, quebrou a cabeça para achar alguma solução, mas foi inútil, não havia ninguém. Ela não queria acreditar, mas, passaria o réveillon sozinha.

A trilha sonora hoje fica por conta da extinta banda Fullheart:



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O Lado Errado do Natal

Seria Jesus um velho gordo barbudo vestido inteiro de vermelho com um saco de presentes nas costas? Seria Papai Noel capaz de transformar água em vinho, ou quem sabe multiplicar o pão em nome de seu pai, Deus?
Se alguém estiver lendo esse texto me desculpe pela forma como ele começou, mas, é que eu não achei jeito melhor de iniciá-lo. Hoje, vou falar de uma idéia de natal muito diferente da original, vou falar do lado negro da força natalina.

Como você deve saber, o natal é a data onde se comemora o nascimento de Jesus, o grande símbolo do cristianismo. Porém, no Brasil (não quero falar de mundo, mas, apenas do país onde vivo) todos param nessa data, independente de ser ateu ou muçulmano (isso vale para outras datas comemorativas, como a páscoa, mas, voltemos ao foco, que é o natal). Independente da religião, existe uma coisa muito mais importante para o país: o regime financeiro, no nosso caso (e praticamente no mundo todo): o capitalismo. Graças ao capitalismo o verdadeiro sentido de natal foi esquecido, e o que vale para maioria das pessoas nessa data se resume em uma palavra: presentes. As crianças nem sabem quem é Jesus, para elas o que importa é o que o barbudo vai tirar do saco ou deixar debaixo do pinheirinho. Mas isso não me frustra, o que me irrita mesmo são os adultos.
Amigo secreto do trabalho, reunião de familiares. Na maioria das vezes essas coisas são realmente legais, rola um certo sentimento de felicidade, uma alegria de se encontrar com pessoas que te fazem bem, mas, nem sempre é assim. Pessoas que passam o ano inteiro brigando, falando mal uma das outras, num dia do ano se obrigam a paralisar a guerra, de vez em quando até rola troca de presentes, aquele clima de falsidade fica no local, e a certeza de que no dia 26 (ou quem sabe segundos depois ao encontro) já estarão falando mal uma das outras.
Outro problema que acontece nas reuniões de família é que se você não comprar presentes você é o cara chato que não gosta de ninguém, como se amar e gostar se resumisse em dar presentes. Existem atitudes e gestos que provam muito mais o que sentimos, estou errado?
Agora se você acha que estou completamente maluco, pense bem. Vai dizer que você gosta de escolher presente pra um funcionário da sua empresa que você nunca conversou ou escolher presente para aquele seu primo chato que já tem tudo e não gosta de nada? Eu acho que não.
Eu sonho que no futuro somente os cristãos praticantes comemorarão o natal e outras datas ligadas à sua religião. É uma pena pensar que não estarei vivo para ver isso. Por falar em pensar, meus pensamentos flutuam entre as seguintes alternativas:
“Ainda bem que natal só vai ter no próximo ano!”
“Que saco, ano que vem vai ter tudo de novo!”

Quem não se lembra do bom e velho Raimundos?



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Paixão Moderna

Rafisa descobriu o orkut de André Ribeiro enquanto “espiava” o orkut de uma amiga. Era um passado não muito distante, uma época que nos álbuns só “cabiam” doze fotos que não podiam ser bloqueadas. A primeira visita rendeu uma paixão à primeira vista, uma paixão virtual. Desde então a menina passou a visitar o perfil do garoto com freqüência, até descobriu o Myspace do rapaz e adorava ver as novidades que surgiam ali.
Uma nova ferramenta surgiu e Rafisa foi a garota mais feliz do mundo quando viu que André Ribeiro visitou o seu orkut. André sabia que ela existia! Quando se arrumava para sair, Rafisa pensava que poderia encontrar sua paixão, conversar, quem sabe falaria seu MSN para ele, e teclando eles poderiam se conhecer melhor. Rafisa se arruma para André.


O álbum de André foi bloqueado, o Myspace ficou desatualizado. Isso não foi problema para Rafisa que passou a acessar o fotolog do rapaz todo dia. A garota imaginava os dois andando de mãos dadas num parque. Quem sabe tomando um sorvete, sentados no banco de uma praça com as pombinhas por perto, uma cena à altura de filmes românticos.
Rafisa, que já não é tão moça, vive lendo o que André posta no Twitter. Ela ainda imagina os dois como um casal de namorados, ainda se arruma para um possível encontro. A garota não deixou de conhecer outros rapazes durante esse tempo, mas, nunca deixou um recado para o rapaz por quem ela se apaixonou. Por vergonha? Medo da reação dele? Talvez um misto dos dois...
Como é babaca essa vida moderna.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Insônia

Era meia-noite, ficar na frente do computador estava me deixando cansado, então decidi desligá-lo e ir dormir. Pelo menos foi isso que pensei que aconteceria. Deitado na cama, me revirei sem conseguir pegar no sono, decidi ler um pouco do livro “Blecaute” do Marcelo Rubens Paiva. Após um bom tempo de leitura surgiram os primeiros bocejos. Já eram quinze pras duas, achei que agora sim conseguiria dormir. Doce ilusão.
Após mais algumas reviradas na cama achei melhor colocar uma música para escutar, distrair e quem sabe dar sono. Era Cazuza. Deu certo, consegui cochilar por alguns minutos. Achei que agora sim poderia dormir tranqüilo. Desliguei o som – o mesmo que me deu sono e me acordou do cochilo - para poder aproveitar de sonhos tranqüilizantes. Não pude, um barulho me incomodava.

O ronco do meu pai era de tremer a casa. Pensei que ele devia ir a algum médico ver isso. Não era à toa que minha mãe reclamava que não dormia direito, afinal, nem eu do meu quarto conseguia tal façanha. Fechei a porta. Merda de calor! Abri um pouco a janela, joguei o edredom dentro do armário e peguei um lençol. Ao abrir a janela algum pernilongo entrou no meu quarto. Maldito zunido!
A cena chegava a ser irônica, se a porta estava aberta sofria com o ronco do meu pai; fechada, era muito calor. Se a janela estava aberta, malditos pernilongos; fechada, era o calor de novo. Se me cobria (mesmo com o lençol), sentia o maldito calor; se me descobria, lá vinham os pernilongos de novo. Desci as escadas, tomei um pouco de água e nos fundos da casa fui procurar aqueles “venenos” de colocar na tomada para insetos. Não achei. Voltando ao meu quarto escancarei bem as janelas e a porta. Peguei o lençol e os travesseiros e fui para sala.
Já tinha passado das três horas quando me deitei no sofá de três lugares, eu não cabia ali direito. Ajeitei-me como pude e aproveitei o clima da sala. A sala era o lugar mais frio da casa, então, mesmo com muito calor ali era um lugar fresco, diferente do inferno que tinha se tornado meu quarto. Pensei em ligar a TV, mas já estava sem óculos e não enxergaria nada. Uma luz incomodava minha tentativa de sono. Era a maldita decoração de natal do vizinho da frente. Mas, isso não era nada comparado ao que viria. Comecei a ouvir um barulho ensurdecedor, algo que chegava a doer os tímpanos. Era o relógio.
TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC
Parecia que o relógio estava dentro do meu ouvido e eu continuava acordado na noite. De repente tocou um alarme – devia ser de carro – que fez o tic tac do relógio parecer baixo por alguns instantes. O som do alarme foi breve, logo parou. Pensei na janela do meu quarto escancarada. Que merda é não se sentir seguro nem dentro de casa. O pensamento logo passou. Ouvi um relinchar de cavalo vindo do terreno que fica atrás de onde moro. Logo em seguida ouvi latidos. Esses pareciam vir de tudo que é lado. Eu estava cansado. O sofá de três lugares não tinha capacidade para me agüentar deitado. Desisti da sala.
Já que não conseguia dormir, decidi voltar pro meu quarto, pelo menos cabia inteiro na cama. Não sabia mais que horas eram. Devia ter passado das quatro. Deitei-me. A temperatura do meu quarto estava melhor, graças a minha genial idéia de abrir totalmente as janelas enquanto não estava ali. Meu pai não estava roncando, também não ouvia mais nenhum zunido. Meus olhos estavam cansados e se fecharam sem esforço algum. Eu estava mais calmo, meu corpo relaxou completamente. Que sensação maravilhosa. Finalmente paz.

Nada mais justo do que uma música do poeta para encerrar o post. O vídeo, vocês já sabem, é um achado no youtube:



quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O que você vai ser quando crescer?

Quem nunca ouviu a maldita pergunta: “O que você vai ser quando crescer?”. Perguntar nunca é problema, o problema é questionar sem estar preparado para diversas possíveis respostas, e isso acontece muito. Muitos pais (entenda que quando digo pais me refiro a todo e qualquer responsável) esperam que seus filhos sigam uma determinada carreira – geralmente, nem sempre, alguma parecida com a que seguiram.

O problema, por exemplo, é que enquanto os pais esperavam um filho contador, o descendente não quer nem saber de cálculos, porém, se expressaria muito melhor numa carreira que pudesse mostrar suas habilidades artísticas. É claro que esse exemplo pode se adequar a várias outras profissões, e, baseado nessas atitudes, eu - que ainda me encontro em condição de filho - criei e me pus a acreditar numa teoria. A “Teoria dos filhos idealizados”, o nome é auto-explicativo, mas, não custa reforçar:
Os queridos pais passam a ignorar as atitudes de seus filhos, e na imaginativa mente dos responsáveis irresponsáveis se cria um novo filho, um filho que tem os mesmos desejos que eles, um filho que irá seguir a profissão que eles tanto desejam. Também existem aqueles pais que aceitam várias carreiras, mas, exatamente aquela que o seu queridinho escolheu, eles dizem não prestar... Vixi Maria! E agora? O que fazer numa hora dessas?
Filhos, não tenham medo de “enfrentar” seus pais. Mostrem pra eles o que vocês realmente querem e não querem. Na base do diálogo, e bem explicadinho eles provavelmente irão entender ou pelo menos ceder.
Pais, a partir da adolescência (provavelmente, até antes), proibir e obrigar são coisas que não funcionam direito, o melhor a fazer é ouvir a opinião de seu filho, sem deixar de mostrar a sua, resumindo: diálogo. E, claro, independente das escolhas de seus filhos, nunca deixem de apoiá-los. Isso poderá fazer muita diferença para um futuro feliz. Esses “conselhos” se estendem para muito além da vida profissional, porém, passar a vida trabalhando em algo desagradável, sem sombra de dúvida, é muito frustrante.

Não achei nenhum vídeo "apresentável" dessa música para postar aqui, então eu mesmo resolvi "upar" a música. Sem apresentação de imagens, o que vale é a canção mesmo.