quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Insônia

Era meia-noite, ficar na frente do computador estava me deixando cansado, então decidi desligá-lo e ir dormir. Pelo menos foi isso que pensei que aconteceria. Deitado na cama, me revirei sem conseguir pegar no sono, decidi ler um pouco do livro “Blecaute” do Marcelo Rubens Paiva. Após um bom tempo de leitura surgiram os primeiros bocejos. Já eram quinze pras duas, achei que agora sim conseguiria dormir. Doce ilusão.
Após mais algumas reviradas na cama achei melhor colocar uma música para escutar, distrair e quem sabe dar sono. Era Cazuza. Deu certo, consegui cochilar por alguns minutos. Achei que agora sim poderia dormir tranqüilo. Desliguei o som – o mesmo que me deu sono e me acordou do cochilo - para poder aproveitar de sonhos tranqüilizantes. Não pude, um barulho me incomodava.

O ronco do meu pai era de tremer a casa. Pensei que ele devia ir a algum médico ver isso. Não era à toa que minha mãe reclamava que não dormia direito, afinal, nem eu do meu quarto conseguia tal façanha. Fechei a porta. Merda de calor! Abri um pouco a janela, joguei o edredom dentro do armário e peguei um lençol. Ao abrir a janela algum pernilongo entrou no meu quarto. Maldito zunido!
A cena chegava a ser irônica, se a porta estava aberta sofria com o ronco do meu pai; fechada, era muito calor. Se a janela estava aberta, malditos pernilongos; fechada, era o calor de novo. Se me cobria (mesmo com o lençol), sentia o maldito calor; se me descobria, lá vinham os pernilongos de novo. Desci as escadas, tomei um pouco de água e nos fundos da casa fui procurar aqueles “venenos” de colocar na tomada para insetos. Não achei. Voltando ao meu quarto escancarei bem as janelas e a porta. Peguei o lençol e os travesseiros e fui para sala.
Já tinha passado das três horas quando me deitei no sofá de três lugares, eu não cabia ali direito. Ajeitei-me como pude e aproveitei o clima da sala. A sala era o lugar mais frio da casa, então, mesmo com muito calor ali era um lugar fresco, diferente do inferno que tinha se tornado meu quarto. Pensei em ligar a TV, mas já estava sem óculos e não enxergaria nada. Uma luz incomodava minha tentativa de sono. Era a maldita decoração de natal do vizinho da frente. Mas, isso não era nada comparado ao que viria. Comecei a ouvir um barulho ensurdecedor, algo que chegava a doer os tímpanos. Era o relógio.
TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC
Parecia que o relógio estava dentro do meu ouvido e eu continuava acordado na noite. De repente tocou um alarme – devia ser de carro – que fez o tic tac do relógio parecer baixo por alguns instantes. O som do alarme foi breve, logo parou. Pensei na janela do meu quarto escancarada. Que merda é não se sentir seguro nem dentro de casa. O pensamento logo passou. Ouvi um relinchar de cavalo vindo do terreno que fica atrás de onde moro. Logo em seguida ouvi latidos. Esses pareciam vir de tudo que é lado. Eu estava cansado. O sofá de três lugares não tinha capacidade para me agüentar deitado. Desisti da sala.
Já que não conseguia dormir, decidi voltar pro meu quarto, pelo menos cabia inteiro na cama. Não sabia mais que horas eram. Devia ter passado das quatro. Deitei-me. A temperatura do meu quarto estava melhor, graças a minha genial idéia de abrir totalmente as janelas enquanto não estava ali. Meu pai não estava roncando, também não ouvia mais nenhum zunido. Meus olhos estavam cansados e se fecharam sem esforço algum. Eu estava mais calmo, meu corpo relaxou completamente. Que sensação maravilhosa. Finalmente paz.

Nada mais justo do que uma música do poeta para encerrar o post. O vídeo, vocês já sabem, é um achado no youtube: