sexta-feira, 12 de março de 2010

Suicída Moderno


O Rapaz olhou para os antidepressivos e a garrafa de whisky pela metade. Ele tinha 27 anos – o rapaz, não o whisky. Na sua vida tudo estava do jeito que ele não queria. Havia brigado com a namorada dois dias atrás, na quinta. Ainda tinha marcas das garrafas quebradas nas suas costas. Mas, a garota levou a pior, devia estar com o olho roxo e com o lábio cicatrizando.
Ele buscou uma lâmina de barbear e colocou na mesa.
Olhou para os antidepressivos e a garrafa de whisky, olhou para lâmina de barbear.
Havia brigado com seus pais no começo da semana. Tudo porque encontraram um pacotinho com maconha escondido no seu quarto. Imagine se os velhos soubessem que ele andava cheirando.
Lembrou-se que seu pai escondia uma arma em cima do guarda-roupa.
Olhou para os antidepressivos e a garrafa de whisky, olhou para a lâmina de barbear e pensou na arma.
Lembrou que no meio da discussão com seus pais, eles falaram sobre sua infeliz carreira profissional. Seu pai sempre quis que ele seguisse a mesma carreira do velho. Mas, o rapaz quis ser ator; não de novela ou cinema, mas de teatro! Sua mãe jogou na cara dele que aquele curso de teatro - que eles tinham pagado - tinha sido em vão. Antes, ele tivesse feito a faculdade de direito, “hoje você poderia ter uma profissão de verdade” foi o que ela disse.
Ele estava sozinho no apartamento, seus pais tinha ido a uma festa chata da elite da cidade. Buscou uma corda e colocou na mesa.
Olhou para os antidepressivos e a garrafa de whisky, olhou para a lâmina de barbear, pensou no revólver e olhou para a corda.
O suicídio já não era mais dúvida. A dúvida era a forma que iria acontecer. Achou que deveria chamar a atenção e o enforcamento parecia perfeito. Pensou em escrever uma carta de despedida ou um poema falando o quanto esse mundo é podre. Queria que seu suicídio aparecesse nos jornais. Ele era um artista, queria pelo menos uma vez a atenção voltada para ele.
O rapaz se matou e o sonho de ser capa de jornal não se realizou. Seus pais gastaram o suficiente para esconder a notícia e não manchar o nome da família.
Ele acabou escolhendo pela corda mesmo.
Ao Invés de carta ou poema de despedida, postou no Twitter: “Queria que me entendessem”.
Sua história nunca saiu em nenhuma capa de jornal ou revista. Saiu apenas num blogzinho que ninguém lê.